No
decorrer dos estudos que fizemos até o momento, é recorrente nossa preocupação
com um processo metodológico que envolva o aluno na construção de uma
aprendizagem significativa e, por conseguinte, promotora de sua maior
integração na vida social e produtiva de sua comunidade e região.
Uma
proposta metodológica rica em atividades diversificadas, experimentações,
trocas de vivências pessoais, que assegurem a articulação dos conteúdos
(conceituais, procedimentais e atitudinais) trabalhados em sala de aula com a
vida e o trabalho, de modo a contribuir para que nossos alunos construam
saberes e sua própria identidade, fazendo assim, sua história.
Nessa
busca, vamos aprender mais um caminho possível para a concretização desse
propósito. Estamos falando da prática educativa desenvolvida a partir de
Projeto de Trabalho. Uma prática que propicia a organização das atividades de
ensino e aprendizagem de modo flexível e com vivências alicerçadas na vida
social e profissional do aluno, abertas às diferentes relação com o ato
educativo formal e informal.
Permite,
também, que o aluno viva a experiência positiva de projetar-se no tempo através
do planejamento de suas ações e de seus aprendizados, assumir responsabilidades
e não depender somente do professor; fazer escolhas e comprometer-se com elas,
além de confrontar-se com outros; de exercitar a solidariedade; de ter
oportunidade de ser agente de suas aprendizagens e ao mesmo tempo produzir
conhecimentos e práticas que têm sentido para sua vida.
Desse modo, o Projeto
de Trabalho sintonizando o cotidiano escolar e o currículo com as grandes
preocupações sociais contemporâneas possibilita re-significar o espaço-tempo
escolar, transformando-o em um lugar vivo de interações, aberto ao real e as
suas múltiplas dimensões.
Esta discussão nos remonta a contextos educativos
(escolas e universidades) não atuais.
Surgiu como uma das contribuições de John Dewey a partir de seu
entendimento no qual a escola é o Centro de Educação que deveria preparar os
alunos para resolução de problemas com que se deparavam no ambiente social.
(ALLARCÃO 1996p.43) Tais idéias foram
amplamente divulgadas no Brasil, por Lourenço Filho, em meados da década
de 1920, contrapondo-se aos métodos utilizados pela escola tradicional.
A
temática foi retomada nas décadas finais do século XX, momento em que se
buscavam alternativas para ressignificação dos currículos escolares e de seus
reflexos sobre a formação dos sujeitos (HERNANDEZ,
1998), numa tentativa de rompimento com práticas que fragmentavam os
conhecimentos e a apreensão da realidade.
Nesse
sentido, a transgressão em organização de projetos de trabalho surge como
possibilidade de e Mudança na Educação como afirma também (HERNANDEZ 1998) numa tentativa de superação
desta visão fragmentária de conhecimento, e por conseqüência de homem,
sustentando-se na compreensão de aprendizagem como um processo global, em que
teoria e prática são indissociáveis. De acordo com BEHRENS (2006)
“(...)
o projeto tem a finalidade de circunscrever a visão do todo envolvendo o
processo de investigação decorrente da problematização precisa enfatizar a
necessidade da proposição de atitude transdisciplinar. Afinal o projeto tem a
função de canalizar energias para investigar possíveis respostas para um determinado
problema e esse problema não está isolado em uma única disciplina. (p35)
Todos
os alunos, em seus diferentes segmentos, são capazes de trabalhar com esta
metodologia, bastando que se faça as devidas adequações ao nível de cada turma,
mesmo que nela existam alunos que ainda não consigam ler bem, podendo, com o
auxílio dos colegas e professor, participar das atividades para ele planejado.
Hernández (1998) chama Projeto de trabalho
o enfoque integrador da construção de conhecimento que transgride o formato da
educação tradicional de transmissão de saberes compartimentados e selecionados
pelo/a professor/a e reforça que o projeto não é uma metodologia, mas uma forma
de refletir sobre a escola e sua função. Como tal, sempre será diferente em
cada contexto. Há um conceito de educação que permeia esta modalidade de ensino
que entende a função da aprendizagem como desenvolvimento da compreensão que se
constrói a partir de uma produção ativa de significados e do entendimento
daquilo que pesquisam, identificando diferentes fatos, buscando explicações,
formulando hipóteses enfim, confrontando dados para poder realizar.
Cabe ressaltar algumas
particularidades dos projetos de trabalho para que possamos compreendê-lo como
uma atividade complexa, capaz de superar uma visão fragmentada de conhecimento
(HERNANDEZ, 1998, p. 78):
a)
O
desenvolvimento de um projeto não é linear, nem previsível;
b)
Não
se repete; uma vez que a experiência com cada turma de alunos é única;
c)
Questiona
a ideia de que se deve ensinar das partes para o todo, e que, com o tempo, o
aluno estabelecerá relações.
Os alunos, dessa forma,
aprendem ao fazer relações e conexões entre os conhecimentos e conteúdos, ao
intervirem no espaço escolar, ao problematizarem a realidade e elaborar
diferentes estratégias de investigação e ao agir de forma ativa e autônoma
diante das situações-problema.
Nesse sentido, surge
como possibilidade de desenvolvimento da autonomia de alunos-professores e como
espaço de construção do conhecimento, uma vez que proporciona a reflexão
crítica sobre a prática e a transformação da mesma.
Os projetos de
trabalho, associados às outras características citadas por Hernandez (1998, p.
82) podem desenvolver posturas formativas necessárias à vida:
1. Percurso por um tema-problema.
Dentro da área específica no qual poderão pensar um tema específico que deverá
ser trabalhado no grupo. Os mecanismos de planejamento, organização de
material, metodologia a serem utilizadas serão decididas pelo grupo.
2. Atitude de cooperação. O
professor e os alunos assumem a postura de aprendizes desse trabalho, cujas
atividades não podem ser desenvolvidas isoladamente, tendo a marca do trabalho
coletivo.
3. Procura estabelecer e questionar a ideia
única de realidade. Os conhecimentos trabalhados deverão ser
aprofundados e discutidos, de forma crítica e reflexiva, fazendo, em todos os
momentos, a ligação com a prática, entre o escrito e o vivido.
4. Cada percurso é singular. O
grupo tem sua maneira específica de caminhar e resolver seus problemas. Desse
modo, cada projeto terá sua forma única de conduzir seus trabalhos.
5. Diferentes formas de aprender. O
trabalho no projeto deverá ser alternativo, criativo, envolvendo as diferentes
formas de aprender e de ensinar.
6. Uma aproximação atualizada dos problemas e
das disciplinas e saberes. É preciso ter propostas de
ensino-aprendizagem que fujam dos padrões comumente utilizados no cotidiano. Dessa forma os problemas de
cada área específica do conhecimento e as dificuldades dos alunos serão
evidenciadas.
7. Leva-se em conta o fato de que todos os
alunos podem aprender. A postura metodológica que trabalha o
conhecimento aproveitando diferentes meios, de ensino e pesquisa, tem como base
a crença de que os alunos são capazes de aprender uns com os outros, crescendo
no coletivo. Aprendem ainda os estagiários e os professores formadores.
As posturas formativas
acima indicadas podem colaborar para a ressignificação das práticas escolares
em Educação. O trabalho colaborativo proporcionado
pelo desenvolvimento dos projetos possibilita a valorização dos conhecimentos e
da experiência de todos os sujeitos que nele se envolvem, além do
estabelecimento de um novo tipo de relações na Escola.
Na
história da educação a prática de Projetos de Trabalho, remonta à leitura de
clássicos como Dewey, Decroly, Freinet e Kilpatrick que já sinalizavam para a
realização de atividades educativas vinculadas ao mundo real, pretendendo
romper com a desarticulação entre os conhecimentos escolares e a vida, com a estrutura rígida e
fragmentada do modelo educativo predominante em sua época, e outras
características da pedagogia tradicional.
Decroly
(1871 – 1932) se destacou com a criação dos Centros de Interesse, como é
conhecido atualmente. Seu método de trabalho rompeu com a rigidez dos programas
de ensino de seu tempo e espaço.
A
concepção didática do Centro de Interesse apoiava-se, em linhas gerais, num
duplo ponto de partida psicopedagógica. Por um lado, destacava o princípio da
aprendizagem por descoberta, que estabelece uma atitude positiva para a
aprendizagem do aluno. Por outro, outorgava ao aluno o direito e a decisão
sobre o que se deve aprender.
Para
seu autor, o Centro de Interesse partia da necessidade do aluno em relação ao
conhecimento a ser estudado em colaboração com o professor. Portanto, o ambiente
de estudo (a sala de aula) transpunha as quatro paredes da classe. A
criatividade e autonomia do aprendiz eram exercidas sem pressão ou normas
coercitivas em etapas da atividade que se dividiam em observação (seleção do
tema a partir do interesse do aluno), associação (ligado ao conhecimento
prévio) e expressão (construção do novo esquema mental / conhecimento /
aprendizagem), trabalhadas de forma associada.
Não
podemos, também, deixar de mencionar as contribuições de Kilpatrick, em 1918,
com sua proposta de “Métodos de Projetos”. Sua intenção era transformar o
currículo de cada curso em conjunto de “projetos”. Seu princípio fundamental
era trabalhar na sala de aula o que se faz continuamente no ambiente natural em
que se vive. O saber tratado na sala de aula passa a ser o mesmo utilizado na
vida real. Na proposta de Método de Projetos desse educador deveria ser
observadas quatro fases: decidir a finalidade; elaborar o plano; executar o
plano e avaliar o desenvolvimento.
É
muito importante ressaltar que apesar da preocupação desses estudiosos em
trazer para a sala de aula os interesses dos alunos, as questões
sócio-políticas nas quais se encontravam inseridos não eram problematizadas,
com vistas a sua transformação.
A
esses estudos somaram-se muitas outras contribuições, em especial, as advindas
das linhas educacionais da década de 80 até nossos dias, com destaque para a
visão construtivista sobre aprendizagem e a pesquisa sociocultural, trazendo o
imperativo da problematização do contexto sócio-político, da participação, e da interação no ensinar e no aprender.
Na
acepção de Hernández (2003), os projetos de trabalho tornaram-se nesses últimos
anos uma das alternativas mais viáveis para as necessidades de aprendizagens do
educando. Por outro lado, o autor nos alerta que “não podemos depositar nos
projetos de trabalho a responsabilidade de ser a solução para os problemas da
instituição escolar nem, muito menos, para tudo o que a sociedade deposita na
escola” (1998:27). Sua concepção pedagógica dá ênfase na contextualização
histórico-metodológica, entendida como um processo de interação social, e na
qual as relações entre conteúdos e áreas de conhecimento têm lugar significante
para resolver uma série de problemas de aprendizagem.
Com
essas considerações acerca dos projetos de trabalho, o professor planeja sua
intervenção e organiza o desenvolvimento do seu projeto de trabalho Hernández
aponta como possíveis etapas:
·
determinar com o grupo a temática a ser
estudada e princípios norteadores;
·
definir etapas: planejar e organizar as ações
- divisão dos grupos, definição dos assuntos a serem pesquisados, procedimentos
e delimitação do tempo de duração;
·
socializar periodicamente os resultados
obtidos nas investigações (identificação de conhecimentos construídos);
·
estabelecer com o grupo os critérios de
avaliação;
·
avaliar cada etapa do trabalho, realizando os
ajustes necessários;
·
fazer
o fechamento do projeto propondo uma produção final, como elaboração de um
livro, apresentação de um vídeo, uma cena de teatro ou uma exposição que dê
visibilidade a todo processo vivenciado e possa servir de foco para um outro
projeto educativo;
Esta forma de organização de saberes que vai se construindo como uma rede, sensibiliza alunos e alunas para aquilo que lhes interessa ou preocupa, legitimando a função social da escola. Possibilita a validade do conhecimento aprendido, resultando numa melhor decisão para a qualidade de vida na sociedade e reconhece o sujeito cidadão, capaz de se inserir no pensamento coletivo para o compartilhamento de espaços e serviços comuns.
Incluir o
aluno na análise e na decisão, de questões que lhe dizem respeito, contribui
para o desenvolvimento consciente de sua cidadania. A escola, em particular, é
o lugar para oportunizar este tipo de aprendizagem: o exercício da tomada de
decisões, tanto individuais como coletivas. Ao refletir sobre suas próprias
concepções, frente às de outros, o aluno amplia seu repertório de alternativas
para uma determinada situação e provoca a desestabilização de seus critérios de
inserção na coletividade.
O/a professor/a frente aos projetos:
o que fazer?.
·
é
pesquisador da realidade e conduz os alunos/as ao exercício da observação,
percepção, análise crítica e criatividade;
·
compreende
sua responsabilidade social e investe na interação;
·
sabe
como se constrói conhecimento e planeja levando em conta o aluno real;
·
avalia permanentemente sua prática e a
modifica;
·
é comprometido com novos paradigmas que
orientam o pensar pedagógico;
·
é
um observador constante e atento, mediando as ações e interagindo com os alunos..
No desenvolvimento de um projeto de trabalho todos os sujeitos se envolvem de forma ativa no processo de construção de conhecimentos e na resolução de situações-problemas.
Nesse sentido, o
diálogo pedagógico é considerado como o principal eixo do projeto, o papel do
professor é o de problematizador e facilitador da aprendizagem.
Nas palavras de
Hernandez (1998, p. 93)
O
papel do professor consistirá em organizar, com um critério de complexidade, as
evidências das quais se reflita o aprendizado dos alunos, não como um ato de
controle, ma sim de construção do conhecimento compartilhado.
Dessa forma, o
professor precisa fazer a mediação (HOFFMA., 19...) entre o problema a ser
investigado, a elaboração do projeto e a formação de grupos de trabalho.A
função do professor é fazer o diálogo pedagógico com os alunos e proceder a
mediação entre estes e o conhecimento.
Entendemos, dessa
forma, que o professor é o profissional
responsável por oferecer suporte teórico e prático a orientar os caminhos a
serem percorridos pelo grupo no desenvolvimento dos projetos de trabalho, que
possibilita mediações necessárias à construção do conhecimento, atua como
interlocutor e animador (FRANCO, 2004).
No processo de
mediação, o professor cria situações de aprendizagem que permitam a realização
de regulações, que são momentos em que os alunos sistematizam os conhecimentos
construídos e formalizam os conhecimentos colocados em ação.
Assim, professor e
alunos vão coletivamente construindo estratégias de ação, considerando
elementos ligados à individualidade de cada aluno, como seus limites e
possibilidades. Nesse sentido, BEHRENS (2006 P.61 A 72) chama atenção para
aspectos importantes: autonomia do aluno (em que o devem ser favorecidas ações
como pesquisa, reflexão e elaboração de procedimentos);disciplina (relativa ao
compromisso em relação a momentos como planejamento, assiduidade, etc); afetividade
(proporcionando um clima de confiança) e abertura (em que são bem aceitas as
críticas e sugestões relacionadas ao estágio, vistas como possibilidade de
melhoria do mesmo).
Assim, os projetos de
trabalho desenvolvidos consolidam-se como espaços colaborativos de aprendizagem coletiva e ressignificação
das relações na Escola e na sociedade.
Três
momentos são configurados no desenvolvimento de um projeto:
a) Problematização: é o
momento inicial, é o ponto de partida em que os alunos expressarão suas idéias,
crenças, conhecimento sobre um tema extraído do interesse da realidade do
aluno. O desenvolvimento posterior do projeto dependerá da problematização, pois é nessa fase que o
professor detecta o que os alunos sabem, suas experiências e familiaridade com
o tema e desafia-os a atuarem como sujeitos ativos de sua aprendizagem. Duas
questões poderão nortear este momento: Que
sei sobre esse tema? O que gostaria de saber? Muitas outras indagações
relativas ao tema do projeto deverão ser levantadas a fim de facilitar a
organização do projeto pelos professores e alunos.
b) Desenvolvimento: é o
momento em que se elaboram as atividades
de estudo, para responderem as inquietações suscitadas na problematização.
Deverá ser iniciado com a pergunta: Como
vamos desenvolver esse Projeto de Trabalho? Sua resposta, certamente,
propiciará: a organização dos grupos e/ou duplas com distribuição de tarefas, a
definição de estratégias diversificadas de estudos, horário de estudo e tempo
de duração das atividades dentre outras providências. O professor, no processo
de mediação da aprendizagem, deverá fazer intervenções e sempre problematizar
os conteúdos com questões desafiadoras, assegurando o desenvolvimento do tema
de estudo em articulação com as áreas do conhecimento postas nos Referenciais
Curriculares Básicos da EJA. É imprescindível sua orientação para o
desenvolvimento de atividades a serem realizadas dentro e fora da sala de aula
(na biblioteca, em visitas e entrevistas a pessoas da comunidade, pesquisa em
sindicatos, associações), para organização de feiras culturais ou exposições de
artesanato, para criação de literatura de cordel, de modo que os alunos se
deparem com as situações de ensino, pesquisa e aprendizagens necessárias para
debater, confrontar experiências, conhecimentos, opiniões diversas, vivências,
respondendo as indagações do tema e ressignificando seus conhecimentos. Cabe
ainda ao professor a orientação na indicação de materiais bibliográficos
(dicionários, revistas, livros, jornais, enciclopédias, filmes, fita K7 e
outros) e na elaboração de relatórios parciais, orais e escritos sobre as ações
realizadas.
b) Síntese: corresponde
à sistematização das ações ocorridas nos momentos anteriores; às observações da
superação das convicções iniciais por outras mais complexas, ou seja, a
superação das hipóteses iniciais e a construção de novas aprendizagens. É o
momento em que os alunos e professores, juntos com os demais sujeitos da
escola, podem apresentar as aprendizagens construídas através de cartazes,
produção de materiais, registro pelo desenho, música ou paródia, peças
teatrais, painel de notícias, feiras, elaboração de cordel etc.
Quando
da execução do Projeto de Trabalho, constata-se que esses momentos não são
etapas estanques, mas momentos inter-relacionados existindo em separado apenas
para sua explicitação didática.
A
sistemática de avaliação das ações educativas
no Projeto de Trabalho dá-se a partir de dois processos: um de ordem
interna, relacionado à assimilação do aluno frente aos temas trabalhados, ou
seja, o que realiza cada aluno e no qual se recapitula o que foi feito e o que
foi aprendido; outro de ordem externa, aplicado em situações diferentes, a
partir das informações trabalhadas pelo professor, com o objetivo de realizar
novas relações, comparações e abrir novas possibilidades de destaque para o
tema e, para que se abram novas perspectivas de continuidade para projeto
subsequentes, formando-se uma teia de significações dentro do processo.
Toda
sistemática de avaliação é realizada através de um dossiê (Portfólio??) de
sínteses dos aspectos tratados no projeto, levando-se em consideração que ele é
um componente da avaliação formativa e o reflexo do conteúdo trabalhado e
aprendido.
Portanto,
trabalhar com Projetos de Trabalho pressupõe outra concepção de ensinar,
aprender e do ato de planejar. O aluno assume um outro papel no processo de
ensino-aprendizagem: deixa de ser submisso e passivo, constrói o conhecimento,
desenvolvendo atividades, discutindo, buscando informações, enfim, conduzindo o
trabalho na busca de respostas aos problemas levantados. A aprendizagem se
desenvolve de forma contínua, participativa, crítica e criativa no processo de
transformação da realidade. O professor, também, não apenas ensina,
transmitindo conhecimentos, mas questiona, estimula, orienta e organiza,
juntamente com o aluno, as aprendizagens realizadas.
A
prática do desenvolvimento de projeto de trabalho é o caminho para aprendermos
melhor sua teoria, metodologia e seus propósitos. Leia e reflita os depoimentos
da professora Vera e da aluna Talita que
vivenciaram o desenvolvimento de projetos de trabalho.
Com a
palavra a professora Vera
Sempre fiquei muito preocupada com a
sistematização de conteúdos e tinha medo que os projetos acabassem por
prejudicar a qualidade do ensino. O trabalho com projetos me mostrou o
contrário. A partir desse projeto, pude trabalhar vários conteúdos matemáticos
de forma significativa.
Meus alunos compreenderam bem o conceito
de escola bem como sua função social. Percebi que as áreas de conhecimento que
aparecem no projeto são as necessárias para resolver as questões propostas pelo
grupo; por essa razão, não há como determinar que em cada projeto precisam
aparecer todas as áreas, ou que se deve ter um projeto para cada área de
conhecimento. Essa definição vai depender da natureza do projeto.
O fato de trabalhar os conteúdos das áreas
a partir de projetos não dispensa o professor de ter clareza acerca de suas
intenções educativas, ou ter parâmetros para nortear suas escolhas. O que
mudou, em meu modo de ver, foi a postura que passei a ter diante desses
objetivos. Hoje, não enxergo mais objetivos como pontos terminais de um
processo que, ao cabo de dois meses, todos deverão alcançar. Sei que são como
um fio condutor de meu trabalho, dando parâmetros para a minha prática.
Percebi que, com os projetos, os alunos
não entraram em contato com os conteúdos das áreas a partir de conceitos
abstratos e de modo teórico. Isso fez com que a aprendizagem fosse mais
significativa e duradoura.
Fonte:
Diários. Projetos de Trabalho. – Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação a
Distância, 1998,96p. Cadernos da TV Escola. PCN na Escola: nº3
Os alunos
também vão percebendo mudanças em seu processo de aprendizagem quando passam a
estudar a partir da perspectiva de Projetos de Trabalho. Vejamos dois
depoimentos de alunos que trabalharam com Projetos de Trabalho.
A palavra da aluna Talita
A gente não tinha muito interesse para
fazer aquilo que a gente queria. Agora não, agora é diferente. Os alunos, eles
trazem aquilo que a gente tem em casa, a gente procura nos livros, procura nas
casas das pessoas.
Fonte:
Diários. Projetos de Trabalho. – Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação a
Distância, 1998,96p. Cadernos da TV Escola. PCN na Escola: nº3
Finalizando nossa conversa sobre
projetos de trabalho é importante ressaltar novamente que não há um método ou
uma fórmula pronta para desenvolver projetos, mas sim uma concepção
diferenciada do/a professor/a em relação ao ensinar e aprender. Esta será
sempre uma relação de troca e de construções sociais interativas, nas quais
todos são importantes parceiros e colaboradores.
E,
assim, conhecemos um pouco sobre os Projetos de Trabalho como outro caminho
para transformar o espaço da aula em um espaço pedagógico diferenciado, aberto
a inovações e a contribuições de aprendizagens significativas para os alunos.
Texto elaborado para uso em sala de
aula, de autoria das professoras: Maria de Jesus Oliveira e Maria Marina Dias
Cavalcante.
BIBLIOGRAFIA DE APOIO:
HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,1998.
_______________________.
VENTURA M. Organização do
currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,1998
BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da
complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
ZABALA, Antoni.
Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo
escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
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